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O primeiro disco de Rock Psicadélico em Portugal

domingo, 2 de outubro de 2011



«Depois da pobreza da caótica fase primária em que predominavam as "violas eléctricas", está neste momento a verificar-se uma evolução positiva, com instrumental mais variado (órgão, saxofone, etc) e maior apuramento técnico (melódico, harmónico e rítmico). (...) Essa evolução também se está a verificar entre nós.»

Escrevia assim Luiz Villas-Boas, fundador do Hot Clube de Portugal, na contracapa de Let Me Live My Life, primeiro e único disco dos Jets.

Porquê falar deste EP, editado em 1967 por uma banda de Lisboa que, no ano seguinte, viria a desaparecer? A resposta é simples: este é considerado o primeiro disco de rock psicadélico feito em Portugal.

As palavras de Luiz Villas-Boas iam, portanto, para além da contextualização; anunciavam a viragem que os Jets - «4 jovens universitários e 1 músico» - provocaram na música rock, feita em terras lusas.

Uma das grandes inovações foi o uso do órgão, responsável por uma sonoridade fuzz que não se ouvia em Portugal e que em muito se aproximava de um novo estilo que, três anos antes, emergiu nos EUA e na Grã-Bretanha.

Outra grande marca deixada por Let Me Live My Life está na capa: assinada por Carlos Fernandes, foi a primeira no repertório do pop-rock português a apresentar um grafismo próprio da estética psicadélica.

Os primeiros sinais do psicadelismo em Portugal iam para além do disco per si: os Jets tocavam «a 15 mil escudos por actuação, ao câmbio da época, fora a dormida, alimentação e casa, durante as loucas - porque sexuais - digressões estivais, meridionais, coloridas e extravagantes, com inglesas em desaforos sensoriais», recorda o baterista e líder dos Jets, João Alves da Costa. A banda tinha, até, duas «mentoras sexuais», Liz e Frankie, «introdutoras de afrodisíacos spanish fly, na vivência criativa musical e erótica».

Os Jets eram formados por Ricardo Levy (guitarra ritmo), Júlio Gomes (guitarra solo), Mário Augusto (baixo), João Vidal de Abreu (órgão) e João Alves da Costa (bateria). Criada em 1964, a banda iniciou o seu percurso no movimento Yé Yé, tendo participado no Grande Concurso Yé Yé, que nos anos 60 levou muitas bandas ao Teatro Monumental.

Três anos depois da sua formação, gravaram o seu primeiro EP, fazendo adivinhar um novo rumo na música que faziam. Uma história que ficaria por contar: no ano seguinte, a banda acabou por desfazer-se, devido ao serviço militar. A marca, contudo, ficou.


Fontes:
Nova Vaga, O Rock em Portugal (1955-1974), Edgar Raposo e Luís Futre, ed. Museu Municipal do Montijo, 2008.
Recordando... Os Jets, Aristides Duarte, Jornal Nova Guarda, 2009.


Let Me Live My Life pode ser ouvido na emissão 18 do Mesa de Mistura.

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