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Residência Groovie Records: o balanço.

domingo, 26 de junho de 2011

Encerrou ontem a residência da Groovie Records no Atelier Real, dedicado à História do Rock'n Roll em Portugal. Estive presente em 4 dos 5 encontros que aconteceram ao longo dos últimos 9 dias e são várias as palavras que me ocorrem, ao fazer o balanço desta experiência. Ora então vamos lá:

Conhecimento
Mais do que um mero evento dedicado à música, esta foi uma experiência de aprendizagem. Não só da génese e evolução do Rock feito em Portugal, falou-se também de design e Arte, de jornalismo musical, dos movimentos underground, da nossa história política e social. Ali, naquela sala, aconteceu aquilo que permite uma sociedade evoluir: a transmissão de Conhecimento, acerca a sua própria identidade.

Partilha
Sem quaisquer poses académicas, esta passagem de conhecimento fez-se com um espírito genuíno de partilha. Uma parte tão importante do nosso passado foi ali revelada, pudemos ouvi-la, vê-la e tocá-la. Sem filtros nem redomas de vidro. É de louvar, a generosidade da Groovie Records e de todos os convidados que passaram pela mesa redonda.

Gratidão
Ao acto de partilha, junta-se um sentimento de profunda gratidão. Pelas histórias contadas na primeira pessoa, por protagonistas que ali estiveram (Carlos Zíngaro, Franjas, João Pedro). Pela oportunidade de ouvir a música saída do vinil, de tocar e observar de perto verdadeiros tesouros - como os acetatos originais da capa do mítico Dos Benefícios Dum Vendido No Reino Dos Bonifácios, ou os exemplares do Onda Pop (primeiro jornal português sobre música rock), tão generosamente trazidos pelo Carlos Zíngaro e pelo João Paulo, respectivamente. Pelo visionamento de imagens não editadas da última entrevista de Joaquim Costa, figura pioneira do rock português e votada ao esquecimento.

Pioneiro / Sem Precedentes
Nunca ninguém fez isto. Passaram mais de cinquenta anos e nunca ninguém, neste país, reuniu esforços para investigar sobre esta matéria, empreender um trabalho de recolha, recuperação e catalogação, pesquisa e investigação, torná-o público, devolvê-lo a todos nós, seus legítimos herdeiros. Trata-se, aqui, de traçar a linha que define a história do Rock português e que se apagou da mente colectiva dos portugueses. Um grupo de pessoas está finalmente a fazê-lo. Infelizmente, o projecto tem de ser apelidado de "pioneiro" e "sem precedentes". Digo "infelizmente", pois já lá vão cinco décadas. Obrigado, Groovie Records.

Frustração / Revolta
Não só pelo que foi dito no tópico anterior, mas principalmente pelo total desprezo de que esta residência foi alvo, por parte dos meios de comunicação social portugueses. Falei com os organizadores e eles cumpriram a sua parte. Um dos jornais diários mais importantes da praça chegou mesmo a assegurar uma notícia, mas de boas intenções está o Inferno cheio. Esta semana, dei por mim numa troca de emails com uma jornalista de um conhecido magazine cultural, exibido na televisão, a quem mostrei a minha indignação.
Nem um - repito, nem um - jornalista esteve presente em nenhum - repito, nenhum - dos encontros. Se não fosse o cartaz que vi à porta do meu local de trabalho, nunca teria sabido disto. Contou-se pelos dedos, o número de pessoas na assistência; no último dia, o número de intervenientes da residência era superior ao dos que assistiam.
Sinto-me frustrado e revoltado, por ver-me metido num país em que o actual "jornalismo musical" (tal como as grandes "editoras de música") funciona para fazer dinheiro, praticar o triste favoritismo à portuguesa e perpetuar um elitismo deprimente, ao invés de educar as massas e divulgar o nosso património.

Escolhi propositadamente este como o último tópico do balanço, para que fiquem com ele no pensamento. Partilharei as valiosas descobertas deste encontro num futuro próximo.

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